Padre Idamor da Mota: Teologia do Corpo – Cristo se Refere ao Princípio (Parte II)

Padre Idamor

Teologia do Corpo – Cristo se Refere ao Princípio

 

No último artigo publicado me propus a expor de maneira sintética a Teologia do Corpo desenvolvida por João Paulo II quando de suas catequeses sobre o amor humano. As catequeses do Papa estão basicamente divididas em duas grandes partes: a primeira parte aborda “As Palavras de Cristo” e segunda parte sobre “O Sacramento” do matrimônio. A primeira parte, no entanto, está dividida em três partes. A primeira delas é a que aqui expomos neste artigo.

No início de suas catequeses o Papa João Paulo II tenta traçar uma adequada antropologia, ou seja, uma adequada “visão integral do ser humano”. E o ponto de partida são as palavras de Cristo direcionada aos fariseus na passagem de Mateus sobre o divórcio.

Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo à prova: É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer? Respondeu-lhes Jesus: Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne? Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu. Disseram-lhe eles: Por que, então, Moisés ordenou dar um documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la? Jesus respondeu-lhes: É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo não foi assim” (Mt 19,3-8).

Ao responder a pergunta dos fariseus Jesus recorre às Escrituras, mais precisamente ao livro do Gênesis, e na sua fala faz referência duas vezes ao “princípio”. O princípio aqui refere-se à criação e a condição inicial que homem e mulher possuíam antes do pecado. Vale ressaltar que, quando Jesus chama a atenção dos fariseus para as palavras  escritas em Gênesis, ele quer, de certa maneira, que eles ultrapassem os limites da condição pecadora do homem e tenham uma compreensão de como era o homem no estado “original”, na sua situação de inocência original. Jesus quer então que eles façam uma distinção entre o estado original e o estado atual do homem (estado “histórico”) que já se encontra dentro do conhecimento do “bem e do mal”, conforme a sugestão do maligno simbolizado pela serpente.

O que isso significa para nós? Significa em primeiro lugar que a ordem inicial da criação do homem querida por Deus não perdeu a força por causa do pecado. Significa que, ainda que o homem tenha perdido a inocência original, Jesus aponta para um caminho onde é possível o homem resgatar algo da sua essência original, isso porque o homem está aberto para o mistério da redenção que veio através do próprio Jesus. Em outras palavras, o homem histórico sujeito às limitações do pecado é capaz de encontrar em Jesus Cristo a sua imagem de ser imaculado e puro como era no “princípio”, de acordo com a vontade e desígnio do Criador. Como diz João Paulo II, essa é a perspectiva da redenção do homem, e mais ainda, a “perspectiva da redenção do corpo” que assegura a continuidade e a unidade entre o estado de pecado do homem e a sua inocência original.

Sabemos que fomos criados por amor e para o amor conforme a vontade divina do Criador; mas para conhecermos o caminho para compreensão mais profunda desse amor e tentar exercitá-lo na nossa experiência cotidiana é preciso que conheçamos a natureza original do ser humano, a nossa própria natureza, para que por Cristo, com Cristo e em Cristo possamos resgatar o nosso “eu” do “princípio”.

No próximo artigo veremos um dos conceitos fundamentais para entendermos a condição humana no princípio. Até lá!

 

Padre Idamor da Mota Junior

Diretor do Centro de Cultura e Formação Cristã - CCFC / Diretor da Escola Diaconal Santo Efrém - EDSE / Diretor das Obras Sociais da Arquidiocese de Belém - OSAB

 

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