Padre Eliano Gonçalves: A fecundidade do discípulo de Jesus

Padre Eliano

A fecundidade do discípulo de Jesus

Nos evangelhos temos diversas indicações dadas pelo próprio Jesus acerca da fecundidade de vida no discipulado. Quero considerar uma delas citada no Evangelho de São Lucas, de modo a motivar reflexões acerca da vocação de seguimento de Jesus Cristo. No texto de Lc. 8, 18a, encontramos a seguinte indicação: “… prestai atenção à maneira como vós ouvis!” Esta chamada de atenção acerca do valor e da qualidade da escuta, ou seja, da atitude necessária ao discípulo na sua íntima relação com a Palavra eficaz do mestre, nos leva a questionar se somos ouvintes atentos e comprometidos de Jesus. Esse ensinamento de Jesus ministrado aos seus discípulos deve iluminar-nos, pois, sua atualidade deve também nos levar a originalidade da vivência radical do nosso batismo. Onde somos chamados à correspondência e ao comprometimento, através da reta escuta da Palavra do Senhor. “Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos” (Jo. 8, 31).

Na parte seguinte, Lc. 8, 18b encontramos: “Pois a quem tem alguma coisa, será dado ainda mais; e àquele que não tem, será tirado até mesmo o que ele pensa ter”. Esse trecho do versículo nos faz refletir acerca de um dinamismo fundamental na vida cristã: “o dinamismo do receber e produzir”. Para todo aquele (a) que busca manter-se constantemente aberto à graça que Cristo lhe oferece, receberá ainda mais, e no final da jornada terrestre a plenitude do Reino dos Céus; mas aquele (a) que não tem, por não ter permitido que a graça o penetrasse, perderá até mesmo o que pensava ter, ou seja, colherá o fracasso total. Essa afirmativa de Jesus nos coloca diante de uma máxima: “tudo aquilo que recebemos e produzimos, se multiplica na fecundidade do Espírito Santo, na eficácia do Evangelho; mas tudo aquilo que retemos sem praticar, sem produzir frutos, fracassa na esterilidade, e nos é tirado, pois, apodrece e perde sua essencialidade”. O discípulo nessa condição de apodrecimento, perde sua autoridade de vida e missão, por não ser praticante, daquilo que ensina e anuncia. Perguntemo-nos: ouvimos para praticar e viver, ou para simplesmente fazer aplicações nas vidas alheias? Toda vocação existe para ser frutífera e não estéril! Devemos exalar o suave e profético odor de Cristo e não a podridão da esterilidade, fruto do egoísmo e da não abertura à graça de Deus.

Todo aquele que adentra na relação de intimidade com Deus, deve experimentar a luz que dissipa as trevas. Jesus é a luz do Pai, a verdade por excelência, e bem ensinou-nos que a verdade conhecida liberta. A luz a espalhar-se é Jesus e o seu evangelho, verdade e vida, graça que penetrando o interior, desperta ao mistério, impulsionando ao testemunho profético. O discípulo uma vez iluminado no plano da graça divina, também tem por missão iluminar. A palavra de Cristo vivida e anunciada pela comunidade torna-se fonte de luz para todos os que dela se aproximam. É a comunhão com a luz e a qualidade da escuta que garantem a fecundidade de vida ao discípulo. Com exatidão podemos afirmar que a Palavra de Deus acolhida com fé e praticada com perseverança, sustenta e aprofunda essa relação com Jesus nosso Senhor.

Concluímos que na vida cristã não pode faltar esse dinamismo do recebimento e cumprimento da Palavra de Deus. Isso significa que é preciso escutar a Palavra (abrir-se a graça), como também, é preciso cumprir a Palavra (traduzir na vida). Somente o discípulo aberto à graça e cumpridor do ensinamento, terá plenamente escutado. Devemos ser vigilantes para não nos tornamos uma tradução falsificada das palavras de Jesus. Nossa vocação cristã tem por missão ser evangelho vivo e vivido, sal da terra e luz do mundo. “Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt. 5, 16). A fecundidade da graça é garantida quando o discípulo vive na autenticidade realista dos frutos e não somente na sustentabilidade das folhas aparentes. A ostentação da aparência é a maldição que oculta, por pouco tempo, uma secura interior destinada a falência total quando revelada. Que a luz desse ensinamento possamos viver buscando as palavras de vida eterna de Jesus que permanecem para sempre.

 

Pe. Eliano Luiz Gonçalves
Vice Reitor do Seminário Diocesano Nossa Senhora Mãe dos Sacerdotes.

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