Padre Idamor da Mota: Teologia do Corpo – A Unidade Original (Parte IV)

Padre Idamor

Teologia do Corpo – A Unidade Original

 

No último artigo vimos o conceito de Solidão Original que está intimamente ligado com o conceito que ora vamos analisar: a Unidade Original. O texto que serve como referência é o que se segue: “Então o Senhor Deus fez vir sobre o homem um profundo sono, e ele adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. Depois, da costela tirada do homem, o Senhor Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem” (Gn 2,21-22).

Na análise do Papa João Paulo II o ‘profundo sono’ do homem (Adão) indica um momento que ele volta ao “não-ser” ou ao momento que antecede a criação. Em outras palavras, é como se o homem deixasse de existir por um breve momento ou ainda como se voltasse no tempo, para que o mesmo pudesse ressurgir já com a sua dupla unidade de homem e mulher. Ao acordar o homem exclama: “Desta vez sim, essa é osso dos meus ossos e carne de minha carne! Ela será chamada mulher (em hebraico ‘ishá’) porque do homem (‘ish’) foi tirada” (Gn 2,23). Assim o homem exulta de alegria ao ver diante de si um ser que é semelhante a si. O próprio simbolismo de que Deus ‘tirou uma das costelas’ do homem mostra essa unidade original entre homem e mulher.

A unidade original, através da masculinidade e feminilidade, revela a comunhão de pessoas querida por Deus desde o início. Essa comunhão só poderia se formar a partir da ‘dupla solidão’ do homem e mulher, pois tanto homem como a mulher padecem da mesma solidão original, que como vimos no artigo anterior revela a necessidade da presença de Deus na vida de ambos. Daí entendermos que a unidade original se expressa como uma ultrapassagem dos limites da solidão, pois essa mesma solidão aponta para a comunhão.

O Papa afirma ainda o seguinte: “O homem torna-se imagem de Deus não tanto no momento da solidão quanto no momento da comunhão, (...) como imagem de uma imperscrutável comunhão divina de Pessoas” (TdC 9). Em outras palavras, a comunhão que homem e mulher são chamados a realizar é um reflexo da comunhão plena existente entre as pessoas da Santíssima Trindade. Nesse sentido, é na comunhão com o sexo oposto é que o homem torna-se imagem de Deus, pois Deus em sua essência é pura comunhão.

Segundo o Papa a expressão do Gênesis “os dois serão uma só carne” (2,24) chega ao seu ápice quando se realiza o ato conjugal. Antes de tudo é preciso entendermos que a expressão “uma só carne” implica uma comunhão total de vida entre homem e mulher. Mas quando homem e mulher tornam-se uma só carne através do ato conjugal eles redescobrem o mistério da criação. Eles voltam ao mistério que os permite reconhecerem-se reciprocamente chamarem-se pelo nome como aconteceu no primeiro encontro entre o primeiro homem e a primeira mulher.

Uma aplicação prática do significado da unidade original que envolve homem e mulher dá-se no fato de que a união de ambos no ato sexual é algo de misterioso e sagrado. Daí termos que afastar aquela ideia errônea de que o ato sexual é pecaminoso. Não, o ato sexual em si mesmo não é pecado. O ato sexual é sagrado! E por ser sagrado é que o mesmo deve ser respeitado e vivido como tal evitando toda e qualquer tipo de banalização. Quando banalizado, o ato sexual torna-se o oposto do plano original de Deus para com o homem, pois ele desfigura o plano divino da comunhão de vida total entre homem e mulher; e tudo o que desfigura o plano original de Deus para com o homem nós chamamos de pecado. O ato sexual só tem sentido amplo e total quando acontece dentro de uma comunhão plena de amor entre homem e mulher. Ser “uma só carne” no ato sexual só tem sentido pleno quando homem e mulher já assumiram previamente o compromisso de viverem numa comunhão de vida e de amor que é para sempre, selada com as bênçãos de Deus. O matrimônio cristão é o lugar próprio dessa comunhão de vida e de amor, e o lugar onde o ato sexual recebe toda a força de sua grandeza e dignidade fazendo jus a sua sacralidade.

No próximo artigo veremos o conceito de nudez original e o que ela implica em nossa vida. Até lá!

 

Padre Idamor da Mota Junior

Diretor do Centro de Cultura e Formação Cristã - CCFC / Diretor da Escola Diaconal Santo Efrém - EDSE / Diretor das Obras Sociais da Arquidiocese de Belém - OSAB

 

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