CCFC - Nas trilhas da Fé e da Razão, de acordo com a grande tradição católica (Parte II)
De acordo com a concepção justiniana o Cristianismo não é (como muitos querem fazer entender hoje em dia), uma anomalia na história, e não pode ser reduzido a uma expressão meramente sociológica. Justino considerava que a Igreja tinha muito a dizer bem como influenciar os intelectuais de seu tempo, em outras palavras, o Cristianismo, o Catolicismo enriquece a cultura, e era nessa ideia que residia sua aspiração: “O seu sonho ou a sua ambição: evangelizar a cultura do seu tempo” (COLA, 1984, p.13).
Há em são Justino uma ideia que o santo padre João Paulo II irá discorrer na sua encíclica Fides et Ratio (FR): que a fé e a razão têm a mesma fonte. Sobre essa convicção de Justino comenta Liébeart : “O entusiasmo apologético de Justino apóia-se na convicção de que fé e razão não podem se contradizer, pois a verdade é uma, tendo sua fonte única em Deus e em seu Logos, seu Verbo, que ele comunica aos homens desde a origem” (LIÉBAERT, 2000. p.48). E João Paulo II nos ensina que “a fé e a razão não podem ser separadas, sem fazer com que o homem perca a possibilidade de conhecer de modo adequado a si mesmo, o mundo e Deus” (FR, 18). O afastamento entre fé e razão resulta em deformidade da capacidade humana de conhecer.
Também Clemente de Alexandria (150-215) era favorável ao mutuo enriquecimento entre fé e razão. De acordo com Clemente a filosofia preparou a humanidade para a verdade cristã de modo que as verdades filosóficas não teriam como substituir a verdade cristã, pois são de outra natureza, esta é eminentemente natural, aquela é sobrenatural. Segundo este pensador, os cristãos não devem temer a filosofia já que ela pode ser um grande auxílio no aprofundamento e esclarecimento das verdades anunciadas pela fé.
Não podemos esquecer nestes breves comentários o grande Bispo de Hipona, Doutor da Graça, Santo Agostinho que teve uma “verdadeira obsessão pelo problema da verdade. Quase em cada página menciona essa palavra. Deseja a verdade, vai em sua busca, consulta-a e, por fim, contempla-a” (COLA, 1984, p.103). Agostinho compreendeu que a razão e a fé podem e devem se enriquecer mutuamente; a razão prepara a pessoa humana para a fé. A fé não deixa que a razão se perca. Juntas atingem o Amor. Na filosofia de Agostinho razão e fé são distintas e não se confundem no interior do discípulo de Cristo, mas completam-no. O cristão (leia católico), segundo Agostinho, torna-se mais completo na medida em que há em seu interior harmonia entre fé e razão. Em função disso tanto a fé como a razão são indispensáveis para se chegar ao conhecimento da Verdade.
O pensamento escolástico manteve a questão em pauta. Destaca-se a figura de São Tomás de Aquino. Ele faz eco a Justino e a Agostinho ao afirmar a consonância “genética” entre fé e razão. João Paulo II diz que o Doutor Angélico “reconhece que a natureza, objeto próprio da filosofia, pode contribuir para a compreensão da Revelação divina. Desse modo, a fé não teme a razão, mas solicita-a e confia nela” (FR, 43).
Mas, aos poucos foi sendo estabelecido um temor entre razão e fé, levando uma e outra à debilidade. É contra essa debilidade que o CCFC se pronuncia ao promover cursos de história da filosofia, semanas e cursos de teologia, conversas bioéticas, cursos sobre o Catecismo, conversas teatrais e muitos outros eventos, sem contar as diversas publicações. Penso que, no âmbito cultural, seja adequado atribuir ao CCFC a mesma resposta de João Batista aos que perguntavam quem ele era: “Eu sou uma voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor” (Jo 1, 23).
(CONTINUAÇÃO...PARTE III)
Ricardino Lassadier Rodrigues de Sousa é Professor, Graduado (Bacharel e Licenciado em Filosofia), Especialista em Filosofia (Epistemologia das Ciências Humanas), Especialista em Teologia (Teologia e Realidade com ênfase em Bioética). Colaborador do CCFC desde 2006.